
Quase seis meses após a morte de
Daniel Pellegrine, o MC Daleste, a polícia de Campinas ainda não tem nenhuma
pista concreta sobre o crime. O funkeiro foi atingido por dois tiros — um de
raspão — na noite do dia 6 de julho, enquanto fazia um show surpresa em uma
quermesse do bairro San Martin.
Depois de ouvir
mais de 20 depoimentos e analisar fotos e vídeos da noite do fato, o titular da
Delegacia de Homicídios de Campinas, Rui Pegolo, ainda não tem pistas dos
assassinos.
“Infelizmente o
crime ainda é um desafio para a polícia. Ainda dependemos de um fio condutor. A
única coisa que podemos afirmar é que trata-se de um mandante e um atirador.
Além disso, sabemos que o atirador sabia bem o que estava fazendo e não deixou
nenhum vestígio. Nem os laudos periciais conseguiram indicar a autoria dos
disparos”, disse.
Investigação em andamento
Segundo Pegolo,
mesmo com as dificuldades em arrumar provas conclusivas, as investigações não
estão encerradas.
“Não desistimos de
esclarecer o crime em nenhum momento. Continuamos empenhados e sempre que
aparece algum fato novo, alguma denúncia nova, damos prosseguimento às
diligências. Estamos contando com a ajuda da população. Quem souber de qualquer
coisa que possa ajudar a elucidar o caso deve nos procurar, não precisa ter
medo. A polícia tem mecanismos de proteção à testemunha”, acrescentou o
delegado.
A família do
funkeiro não foi encontrada para falar sobre o assunto. No dia de seu enterro,
o pai de Daleste, Roland Pellegrine, disse que seu filho foi morto por
“inveja”. “Foi inveja. Inveja mata.” Ainda segundo ele, a vítima não tinha
inimigos. “Era um menino muito bom, um menino carismático, dócil. Ele não tinha
inimigos”, afirmou.
Suspeita
Durante as investigações,
a polícia chegou a apurar a denúncia de que Daleste estaria se envolvendo com a
mulher de um traficante na região do San Martin, onde ele foi morto.
A advogada da
família do cantor, Patrícia Vega, ressaltou a importância da ajuda da população
para o esclarecimento do caso.
“A polícia está
empenhada, quer esclarecer. Acontece que o crime é muito complexo. Não há
nenhum indício. Só daria para esclarecer se alguém ligado diretamente ao fato
falasse”, afirmou.
No dia 18 de julho,
uma reprodução simulada realizada pelo Instituto de Ciminalística no local do
crime mostrou que o assassino do MC disparou as duas balas que atingiram o
funkeiro de um mesmo ponto, entre 30 e 40 metros de distância do palco.
Os tiros saíram de
uma área ao lado de uma casa em construção, próxima de um matagal, por onde o
criminoso deve ter fugido.
Laudo do IML
Na ocasião, a
perita Ana Cláudia Diez descartou a possibilidade de um segundo atirador,
apesar de a simulação não conseguir identificar a arma usada no crime.
O laudo divulgado
pelo Instituto Médico Legal (IML) constatou que o cantor morreu de anemia aguda.
O primeiro tiro
atingiu o cantor de raspão, na axila, mas o segundo feriu três órgãos:
estômago, fígado e pulmão.
Não é possível
precisar a arma usada, porque não foi encontrado nenhum projétil. A bala que
atingiu MC Daleste atravessou ainda um tapume no fundo do palco. O funkeiro foi
enterrado por volta de 9h40 do dia 8 de julho, no cemitério da Vila Formosa, na
região leste de São Paulo. Centenas de fãs acompanharam o enterro cantando
músicas do artista.
Daleste, que
começou a carreira no bairro da Penha, em São Paulo, fazia parte do grupo de
funkeiros da corrente conhecida como “funk ostentação” ou “funk paulista”, em
que temas de preocupação social dão lugar a letras sobre dinheiro, marcas de
roupa, carros, bebidas, joias e mulheres.
O sexto
O funkeiro cantava
os hits "Gosto Mais do que Lasanha" e "Mais Amor Menos
Recalque", esse último já foi reproduzido mais de 1,6 milhão de vezes no
YouTube.
O cantor foi o
sexto funkeiro assassinado no Estado de São Paulo em três anos.
Antes dele,
morreram Felipe Wellington da Silva Cruz, o MC Felipe Boladão; Felipe da Silva
Gomes, o DJ Felipe da Praia Grande; Eduardo Antônio Lara, o MC Duda do Marapé;
Jadielson da Silva Almeida, o MC Primo e Cristiano Carlos Martins, conhecido
como MC Careca.
Todos os crimes
ocorreram na Baixada Santista. De acordo com a Secretaria de Estado de
Segurança Pública, todos os crimes continuam sendo investigados, mas não há
novidades nas apurações.
Um dos casos foi
relatado à Justiça como de “autoria desconhecida” mas também continua em aberto.
O mais procurado
MC Daleste foi o
músico mais procurado pelos internautas brasileiros no Google em 2013.
O segundo músico
mais procurado foi o vocalista do Charlie Brown Jr., o Chorão, que também
morreu neste ano vítima de overdose de cocaína, em março.
Já no ranking
geral, MC Daleste é o único nome da música a aparecer, em quinto lugar, atrás
de Big Brother Brasil, da empresa acusada de fraude financeira Telexfree, da
novela Salve Jorgee do Enem 2013.
Na lista de
momentos mais buscados, a liderança ficou com o Rock in Rio, realizado em
setembro, que ficou à frente do Carnaval, da tragédia da boate Kiss em Santa
Maria e da escolha do Papa Francisco.
O caso de Daleste
foi parar até no Senado no dia 15 de julho, quando o senador Eduardo Suplicy
(PT-SP) apresentou requerimento de voto de pesar pela morte do MC e apresentou
suas condolências à família.
“O assassinato do
músico MC Daleste ainda não foi esclarecido, mas já gerou um forte impacto
sobre a família e os amigos dos MCs. Uma das medidas a serem adotadas é não
aceitar mais shows sem os requisitos mínimos de segurança”, disse o senador em
entrevista à Agência Senado.
Na ocasião, Suplicy
disse que o caso de Daleste não é isolado. Desde 2010, outros cantores do
gênero foram mortos no Estado de São Paulo.
Ele se emocionou ao
ler as letras de duas músicas feitas por Daleste: Minha História, em que o
funkeiro falava da infância pobre e difícil, e Herói, em que fazia uma
homenagem ao pai.
Para o senador, é
preciso refletir sobre a insegurança que caracteriza a vida nas cidades e
pensar em soluções para acabar com a violência e a criminalidade.
Fonte: RAC