Existência de água em Marte aumenta chances de planeta suportar vida, dizem cientistas
Água salgada flui durante os meses de verão em
Marte, elevando as possibilidades de que o planeta, há muito considerado árido,
pode suportar vida atualmente, disseram nesta segunda-feira cientistas que
analisaram dados de uma espaçonave da Nasa.
Embora a fonte e a composição química da água
marciana sejam desconhecidas, a descoberta vai mudar o pensamento dos
cientistas sobre se o planeta mais parecido com a Terra no Sistema Solar abriga
vida microbiana embaixo de sua crosta radioativa.
"Isso sugere que seria possível para a vida
estar em Marte hoje", disse John Grunsfeld, administrador associado da
Nasa para as ciências, a jornalistas ao discutir o estudo publicado na revista
científica Nature Geoscience.
"Marte não é o planeta seco e árido que nós pensávamos
no passado. Sob certas circunstâncias, a água líquida é encontrada em
Marte", disse Jim Green, diretor da agência para ciência planetária.
Mas a Nasa não vai correr para buscar a fonte dos
recém-descobertos resíduos de água salgada para procurar possíveis formas de
vida tão já.
"Se eu fosse um micróbio em Marte, eu
provavelmente não viveria perto de um desses locais. Eu iria querer viver mais
ao norte ou ao sul, bem abaixo da superfície e onde há mais de água fresca
glacial. Apenas suspeitamos que esses lugares existem, e temos algumas
evidências científicas de que existem", disse Grunsfeld.
A descoberta de água foi feita quando cientistas
desenvolveram uma nova técnica para analisar mapas químicos da superfície de
Marte obtidos pela espaçonave da Nasa Mars Reconnaissance Orbiter.
Esses mapas encontraram indicadores de sais que só
se formam na presença de água em canais estreitos feitos em paredes de
penhascos ao longo da região equatorial do planeta.
Esses declives, reportados pela primeira vez em
2011, aparecem durante os quentes meses de verão em Marte, então desaparecem
quando as temperaturas caem. Algo similar acontece com as digitais químicas de
minerais, mostrou o novo estudo.
Cientistas suspeitavam que essas marcas, conhecidas
como RSL, se formaram pelo fluxo de água, mas não tinham anteriormente
conseguido fazer as medições.
"Eu achava que não havia esperança",
disse Lujendra Ojha, principal autora do estudo, à Reuters.
A Mars Reconnaissance Orbiter tira suas medidas
durante a parte mais quente do dia marciano, então os cientistas acreditam que
qualquer vestígio de água, ou digitais de minerais hidratados, teriam
evaporado.
Além disso, os instrumentos quimicamente sensíveis
da espaçonave não conseguem abrigar detalhes tão pequenos quanto os dos canais
estreitos, que tipicamente tem largura menor que 5 metros.
Mas Ojha e seus colegas criaram um programa que
consegue analisar pixels individuais. Esses dados foram correlacionados com
imagens de alta resolução dos canais. Cientistas se concentraram nos canais
mais largos e determinaram uma compatibilidade de 100 por cento entre sua
localização e a detecção de sais hidratados.
Ainda não se sabe se os minerais estão absorvendo
vapor d'água diretamente da fina atmosfera marciana, ou se há uma fonte de gelo
embaixo da superfície. Independentemente da fonte, a perspectiva de água
líquida, mesmo que sazonalmente, gera a intrigante probabilidade de que Marte,
presumivelmente um planeta gelado e sem vida, possa suportar vida atualmente.
O cientista Alfred McEwen, da Universidade do
Arizona, no entanto, afirma que muito mais informação sobre a composição
química da água marciana é necessária para se fazer tal avaliação.
"Não é necessariamente habitável só porque tem
água, pelo menos não para organismos terrestres", disse ele.
A perspectiva da existência de água, mesmo que
extremamente salgada, também tem implicações para futuras missões de humanos
para Marte. A Nasa quer enviar astronautas norte-americanos para o planeta em
meados da década de 2030.
"Marte tem recursos que são úteis para futuros
viajantes", disse Grunsfeld. "A água é realmente crucial, porque
precisamos de água para beber, oxigênio para respirar."
A água também pode ser dividida em moléculas de
hidrogênio e oxigênio para produzir combustíveis para foguetes, necessários
para trazer os astronautas de volta para a Terra.
Por Irene Klotz
(Da Reuters Brasil)
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