Seca | Castanhão garante abastecimento de Fortaleza só até setembro de 2016
A declaração do secretário estadual dos Recursos
Hídricos (SRH), Francisco Teixeira, é a mais esclarecedora sobre o momento
hídrico de Fortaleza: “Trabalhamos em simulações e levando em conta que pode
haver o pior no próximo ano. Partindo desse princípio de um aporte mínimo (de
chuvas), com a água que dispomos hoje do açude Castanhão e mais a ajuda do
Orós, podemos garantir o abastecimento da Região Metropolitana de Fortaleza sem
medidas drásticas até setembro de 2016”. Na sequência, outra ênfase: “A partir
de setembro, aí sim, podem ser adotadas medidas como o racionamento”.
Nesse cenário raso projetado para a Capital,
Teixeira também confirma que, a partir de abril, pela primeira vez o Orós
deverá ser acionado para abastecer Fortaleza diretamente. Ele disse que os
estudos estão feitos e a decisão da SRH e de outros órgãos estaduais do setor
hídrico já está tomada. “Se chover entre fevereiro e março e o Castanhão pegar
boa água, aí o cenário é outro”, admite. A proposta, no entanto, é retardar ao
máximo a medida. A ideia é que seja lançada a vazão média de 20 metros cúbicos
por segundo (m³/s), em ondas (grandes quantidades lançadas de uma única vez),
para que a perda por evaporação seja a menor possível. Cada m³ equivale a mil
litros de água.
Hoje com 36,59%, o Orós já despeja água até o
Castanhão em vazão irrisória, apenas para manter perene o canal de 150
quilômetros que os interliga. Com capacidade de armazenar 6,9 bilhões de m³, o
Castanhão está atualmente com 13,55%, o pior volume desde que foi inaugurado em
2002. Está perdendo cerca de dois centímetros por dia com a evaporação.
Parece uma guerra
O
secretário explica que, além da chuva propriamente dita, a situação hídrica da
Capital poderá melhorar “se houver colaboração maior da sociedade”. Cita o uso
consciente da água, como adoção de medidas pessoais contra o desperdício, como
potencializador das reservas disponíveis. Fortaleza representa o maior consumo
no Estado (cerca de 3,5 milhões de habitantes, somada a Região Metropolitana).
“A Capital tem que dar seu exemplo. Por isso estabelecemos a sobretaxa”
(anunciada semana passada pela Cagece, que cobrará até 120% sobre o uso
excedente se o usuário não reduzir seu consumo médio.
Francisco Teixeira se levantou várias vezes para
indicar, num grande mapa do Cinturão das Águas do Ceará que adorna seu
gabinete, as várias medidas adotadas para resolver a crise hídrica em diversas
localidades do Estado. Água sendo transposta de um lugar a outro, de cidades
que têm um pouco mais para as que já estão sem nada. Mananciais transferidos
por adutoras de montagem rápida, restrições de irrigação ou a escavação
acelerada de poços em jazidas de qualquer vazão. Teixeira descreveu vários
casos em sequência pelo Interior. “E assim vai. É caso a caso. É parecido até
com a guerra, em que você vai conquistando cidade por cidade, rua por rua”,
comparou.
Mesmo comedidamente, Teixeira celebra a
possibilidade da chegada de água pela transposição do rio São Francisco. A
previsão dada pelo Governo Federal é que o Velho Chico comece a operar
regularmente para o Ceará a partir de julho. “Mas eu dou um desconto e trabalho
com mais dois meses e, digamos, que possa ser em setembro”, ressalta, com a
experiência de já ter sido ministro da Integração Nacional (entre 2013 e 2014).
Esse aporte, segundo ele, será animador também para as condições do Castanhão.
O São Francisco chegará pelo sul do Ceará, num canal na cidade de Jati, e
seguirá pelo Cinturão das Águas até o Orós.
O secretário admite, com parcimônia, que são
simuladas medidas ainda mais drásticas dentro do cenário posto - como corte
total no fornecimento para áreas de irrigação (hoje reduzida em 50% em regiões
como o Jaguaribe) ou metas de redução para 15% do consumo na Capital (ao invés
dos 10% atuais). “Tenho que esperar (a chuva) até maio do próximo ano, mas não
posso esperar de braços cruzados, sem estabelecer algumas restrições (no uso)”.
Teixeira reflete:“Não podemos esquecer de uma seca como essa. Não pode virar só
literatura”.
Água remanescente
Inaugurado
em 2002, o maior volume já armazenado no Castanhão foi registrado em 16/5/2009,
quando atingiu 97,82%. Hoje está no pior volume. O secretário Francisco
Teixeira diz que as águas que chegam a Fortaleza são remanescentes de chuvas
dos anos 2004, 2008 e 2009. A seca atual começou em 2012
Com Informações do O Povo
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