Com sumiço da prefeita, clima em Municipio é de incerteza
Com o sumiço da prefeita de Bom Jardim (MA), Lidiane
Leite (PP), de 25 anos, moradores da cidade estão sem saber quem está no
comando do município, a 275 km de distância da capital maranhense, São Luís.
Lidiane Leite está foragida desde quinta-feira (20), procurada pela Polícia
Federal (PF), que investiga denúncias de desvios de verbas da educação no
município. A denúncia partiu do Grupo de Atuação Especial de Combate às
Organizações Criminosas (Gaeco) do Ministério Público do Maranhão (MP-MA) e Ministério
Público Federal (MPF).
Os vereadores estão impedidos de realizar votação para
afastar a prefeita do comando da cidade por causa de uma medida cautelar obtida
por Lidiane na Justiça. Ela já havia sido afastada três vezes do cargo: na
primeira vez, em abril de 2014, pelo prazo de 30 dias após denúncias de
improbidade administrativa, retornando ao cargo em 72 horas, depois de obter
liminar na Justiça; na segunda, pelo período de 180 dias, em dezembro de 2014,
com liminar suspensa pelo Tribunal de Justiça do Maranhão (TJ-MA) em 48 horas;
e terceira em maio de 2015, retornando
em 72 horas.
Na cidade, o clima é de incerteza na cidade com 39.049
habitantes. “Não sei, não, senhor”, diz um morador, questionado sobre onde
andava a prefeita. “A prefeita sumiu e sumiu com dinheiro, ainda mais”, ironiza
o mototaxista Edmilson das Neves. Já outros habitantes têm medo e preferem não
falar sobre o assunto.
Na prefeitura, o expediente é de 8h às 12h, mas poucas
pessoas foram encontradas no prédio nessa sexta-feira (21). Somente o
secretário de Administração e Finanças, Dal Adler Castro, poderia responder
pelo órgão, mas não quis falar com a imprensa.
Por outro lado, há moradores que esperam por uma
solução rápida para o impasse na cidade. “A expectativa é que a vice assuma”,
diz o comerciante Reginaldo Carrilho. Segundo o presidente da Câmara Municipal,
Aarão Silva, a vice-prefeita Malrinete Gralhadas (PPS) só poderá assumir o
cargo quando houver o afastamento da prefeita.
Investigações
Lidiane Leite está foragida desde quinta-feira, quando
foi iniciada a Operação Éden, da PF, que investiga denúncias de desvios de
verbas da educação no município de Bom Jardim. Nessa sexta-feira, a PF reforçou
a vigilância em aeroportos e rodoviárias do Maranhão a fim de capturar a
prefeita.
Na quinta-feira, foram presos o ex-secretário de
Agricultura, Antônio Gomes da Silva, conhecido como "Antônio
Cesarino", e de Assuntos Políticos, Humberto Dantas dos Santos, conhecido
como Beto Rocha, que seria ex-namorado da prefeita. A repercussão nacional do
caso acelerou a operação.
Desvios
A polícia investiga transferências de cerca de R$ 1
mil realizadas da conta da prefeitura para a conta pessoal de Lidiane que
chegam a R$ 40 mil em um ano. Também foram feitas transferências para o
advogado da prefeitura, Danilo Mohana, que somam mais de R$ 200 mil em pouco
mais de um ano.
Além da prefeita, secretários, ex-secretários e
empresários também estão sendo investigados por causa de irregularidades
encontradas em contratos firmados com "empresas-fantasmas". Houve
duas licitações para reformar 13 escolas, pelas quais a Zabar Produções obteve
R$ 1,3 milhão e a Ecolimp recebeu R$ 1,8 milhão. Nenhuma das empresas foi
encontrada.
Em 2013, a prefeitura firmou contrato com 16
agricultores para o fornecimento de merenda escolar nas escolas municipais,
pelos quais cada agricultor receberia em média R$ 18 mil por ano. Os
agricultores afirmaram que não receberam os pagamentos.
Luxo na
internet
Lidiane se tornou prefeita aos 22 anos, em 2012,
depois que o namorado dela na época Beto Rocha, candidato a prefeito, teve a
candidatura impugnada ao ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa. Ela assumiu o
lugar dele e foi eleita.
Depois que assumiu o cargo, Lidiane passou a
compartilhar fotos da nova rotina nas redes sociais. Nos perfis pessoais, ela
escreveu: "eu compro é que eu quiser. Gasto sim com o que eu quero. Tô nem
aí pra o que achem. Beijinho no ombro pros recalcados". Em outro post, ela
diz: "devia era comprar um carro mais luxuoso pq graças a Deus o dinheiro
ta sobrando".
Afastamentos
A Justiça do Maranhão havia determinado o afastamento
da prefeita pelo prazo de 180 dias em dezembro de 2014, com base no
descumprimento da regularização das aulas e do fornecimento de merenda e de transporte
escolar em Bom Jardim.
Na ação, o Ministério Público do Estado afirma que
Lidiane havia apresentado informações falsas a respeito das irregularidades,
mas as informações acabaram desmentidas por meio de denúncias dos próprios
moradores da cidade.
A gestora também já havia sido citada pela Justiça por
má conduta no início de 2014, quando foi deferida liminar, a pedido do MP-MA,
para declarar a ilegalidade de decreto municipal que tornou nulas as nomeações
dos excedentes do concurso público homologado em novembro de 2011.
G1
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