Exclusivo: 180 revela contratante de pistoleiro para assassinar radialista
Escritos sobre a mesa do
delegado revelam suposto envolvido no crime em Camocim, no Ceará
O Estado, no Ceará, mas propriamente a estrutura de
poderes que o compõe, poderá vir a ser reconhecido, se já não o é, como um
inerte e senil arcabouço burocrático agachado diante da prática da pistolagem,
se não der uma resposta à altura para a morte do radialista Gleydson Carvalho,
assassinado a tiros quando apresentava um programa na Rádio Liberdade FM. Esse
caso levanta, inclusive, suspeitas sobre até onde o Estado é, ou vai ser capaz
de ir para solucionar esse crime.
Daí a necessidade das entidades nacionais e até
internacionais de defesa da Liberdade de Expressão, que engloba a de Imprensa,
estarem atentas para cobrar das autoridades devidamente constituídas a solução
em toda a sua essência desse lamentável episódio, com a exemplar
responsabilização de todos os acusados e envolvidos nesse crime, que pela
descrição, de posse do 180, colhida in loco, se desenha sorrateiro, desumano.
Se mostrou bastante preocupante, como divulgado último
final de semana, também pelo 180, uma nota oficial vinda da secretaria de
Segurança Pública do Governo do Ceará direcionada a este portal de notícias,
afirmando que “com a identificação dos cinco envolvidos no delito, a Polícia
Civil elucidou o caso”. Como se vê, a Secretaria de Segurança do governo
afirmou, sem que o inquérito estivesse ou esteja terminado, que são somente
cinco os envolvidos.
Seriam eles dois já presos, que deram apoio ao plano
de matar, ainda dois pistoleiros - que estão soltos, e um suposto mandante,
também solto.
ESCRITOS
NA MESA DO DELEGADO REVELAM NOME DE “BATISTA DENTISTA”
Na passagem por Camocim, último dia 10 de agosto,
quatro dias após o assassinato, um dos procurados pelo 180 para falar sobre o
caso foi o delegado responsável pela condução do inquérito, Herbert Ponte e
Silva. Durante o tempo de conversa, algo em torno de 32 minutos, foram feitas
20 fotografias do delegado, como esta abaixo.
Até agora, somente uma havia sido divulgada nas duas
matérias já veiculadas pelo Portal - e essa foto acima já é outra. Os registros
chamaram atenção por conta da existência de papéis contendo escritos sobre a
mesa do delegado. Neles, há pelo menos quatro papéis visíveis, com letras
escritas a próprio punho. São dois menores e dois maiores, sendo uma folha de
papel caderno e a outra, A4.
Ao se inverter as fotos, e aumentar as imagens, surgem
detalhes interessantes, e alguns nomes, como o de “Batista Dentista”, que vem a
ser o tio do prefeito James Bell (PMDB), de Martinópole, a quem o radialista
Gleydson Carvalho constantemente denunciava em sua rádio. Batista, que possuiria
somente o 1º grau, está foragido.
BATISTA
É O SUPOSTO CONTRATANTE DE PISTOLEIRO, SEGUNDO ESCRITOS
Num dos escritos que aparecem na folha de caderno, que
durante a conversa com o jornalista foi virada pelo delegado, diz: “Ligação
feita pelo Batista Dentista para o estado do Pará para contratar o pistoleiro
Israel Marques Carneiro vulgo “Baixinho” que estava morando naquele estado na
cidade?? “Perguntar a
“Gisele”
é Gisele de Souza Nascimento, uma das presas na questionável operação da
Polícia Civil realizada no distrito de Serrota, pertencente ao município de
Senador Sá, a mais 80 quilômetros de Camocim, onde também foi preso Francisco
Antônio Carneiro Portela.
Nesse
episódio da prisão, dois pistoleiros, que segundo depoimento de Gisele também
estavam na casa ‘invadida’, fugiram pela porta dos fundos, quando a Polícia
adentrou a casa pela frente.
Esses
escritos sobre a mesa do delegado sugerem, no mínimo, que "Batista
Dentista" é investigado por supostamente contratar ao menos um dos
pistoleiros.
De onde
se extraiu esse dado, o papel traz a data no seu canto esquerdo superior de
“09/08/2015”. Uma das muitas informações disponíveis e visíveis nas mais de 20
fotografias registradas.
Em
nenhum momento durante a entrevista, o delegado fez referência ao nome de
"Batista".
“BATISTA
DENTISTA” TIO LEGÍTIMO DE JAMES BELL
O 180 apurou que "Batista Dentista" é tio "legítimo", por parte de mãe, do prefeito de Martinópole. "Batista" é considerado um homem de “pavio curto”, não tem profissão, seria fumante e beberia. Esse apelido, "Dentista", vem do pai, um “dentista sem formação”, segundo uma fonte ligada à Prefeitura de Martinópole.
O 180 apurou que "Batista Dentista" é tio "legítimo", por parte de mãe, do prefeito de Martinópole. "Batista" é considerado um homem de “pavio curto”, não tem profissão, seria fumante e beberia. Esse apelido, "Dentista", vem do pai, um “dentista sem formação”, segundo uma fonte ligada à Prefeitura de Martinópole.
Há um
detalhe a mais, Batista, também segundo apurou a reportagem, não teria um
emprego. Ora, então como teria dinheiro para pagar dois pistoleiros, alugar uma
casa, onde foi planejado o assassinato, por gasolina nos veículos usados no
plano, pagar alimentação, transporte dos acusados, vindos de outros estados
até?
Em
sendo ele investigado pela Polícia Civil de Camocim como suposto contratante,
quem o teria repassado dinheiro então, para por em prática esse plano?
NOME
DO DEPUTADO “ESTADUAL DUQUINHA” ESTÁ NOS ESCRITOS
Num papel menor, sobre a mesa do delegado, aparece
também o que seria “Fazenda do Dep. Duquinha”, que fica na região de Serrota. E
nesse distrito que fica a casa onde foram presos dois supostos envolvidos no
assassinato. No pequeno papel os escritos sugerem:
“Fazenda do Dep. Duquinha”
“Localidade de Serrota depois pega Varjota Rei (ou
boi) Manso depois Leite”
- Pergut... na fazenda.
- estão (...) no mato.
- só a...
TALVEZ UMA ROTA A SEGUIR. TALVEZ
Duquinha é como é conhecido o deputado estadual Manoel
Duca, do PROS. Foi este o parlamentar flagrado pelo sistema de comunicação da
Assembleia Legislativa do Ceará, enquanto presidia uma sessão, dizendo,
sorrindo, após a morte de Gleydson: “Com todo respeito a você, Ely [Aguiar, do
PSDC, outro deputado, radialista, que rendia homenagem a Gleydson], mas esse
era coisa muito ruim, esse homem. Com todo respeito, esse aí não valia nada”.
Gleydson não fumava e nem bebia, e era evangélico.
Ao jornal O Estado de São Paulo, o deputado Duquinha,
indagado sobre o ocorrido, disse: “eu assino embaixo”. Como se vê, um homem
destemido perante a opinião pública.
O deputado estadual Duquinha é irmão do deputado
federal Aníbal Gomes (PMDB-CE), citado na Operação Lava Jato. Ambos têm fama de
“truculentos” como escreveu o jornal Estadão. Os irmãos, também segundo o
jornal, foram acusados de mandar matar um prefeito do município de Acaraú, a
253 quilômetros de Fortaleza.
Duquinha informou que o processo foi arquivado.
FUNCIONÁRIO
DIZ QUE AMEAÇAS SE INTENSIFICARAM RECENTEMENTE
Uma das pessoas ligadas à rádio contou ao 180, durante
entrevista gravada, sob a condição de anonimato, que as ameaças ao radialista
começaram a se intensificar “recentemente, com a divulgação de um evento que
iria ser feito aqui numa cidade próxima”.
180: Que evento era esse?
Fonte: Era o aniversário da rádio e ia ser feito um
evento numa cidade”.
180: Qual era a cidade?
Fonte: Martinópole.
180: Você acha que alguém da cidade está envolvido?
Fonte: Eu não acho nada. Não acho nada.
DOIS
PISTOLEIROS E O SUPOSTO MANDANTE CONTINUAM SOLTOS
Até agora a Polícia Civil não apresentou os dois
pistoleiros, muito menos o suposto mandante, dentre aqueles cinco integrantes
com quem ela trabalha para encerrar o caso. O preocupante é que a Secretaria de
Segurança considera que a polícia já “elucidou” o assassinato, conforme nota
oficial já divulgada.
Não há registros de que Gleydson chegou a denunciar
“Batista” na rádio, até porque ele não teria como ser alvo de reportagens
jornalísticas ou radiofônicas, ou ainda de críticas, qualquer que fossem elas,
por parte de comunicadores da região. Não tinha relevância do ponto de vista da
notoriedade jornalística. Portanto, ele não tinha como se sentir ofendido.
Muitos são taxativos em dizer que Batista não teria
dinheiro para financiar uma morte.
Então, quem financiou, delegado Herbert Ponte e Silva?
Ou Batista é o nome que o senhor trabalha para ser apresentado como o
contratante e o mandante?
JAMES BELL NÃO FOI ENCONTRADO PELA REPORTAGEM
Em contato com o número do celular do prefeito de Martinópole, James Bell, não foi possível falar com o líder do Executivo municipal. A mensagem era de que no momento o número não podia receber ligações.
Em contato com o número do celular do prefeito de Martinópole, James Bell, não foi possível falar com o líder do Executivo municipal. A mensagem era de que no momento o número não podia receber ligações.
Já em
contato com a Prefeitura de Martinópole, uma secretária, de nome Vitória, disse
que o prefeito “teve um probleminha” e precisou viajar. Indagada para onde, não
soube responder. Ficou com o nome e o contato do repórter para posterior
retorno.
A ela foi repassado o assunto a ser abordado: "relação do prefeito James Bell com o radialista Gleydson
Carvalho".
Vitória
garantiu que se o prefeito fosse na prefeitura, na tarde desta quarta-feira
(19), lhe daria o recado.
É
válido esclarecer que o prefeito não é investigado pela Polícia.
Fonte: Portal 180
Graus
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