Indignado, Cid rebate acusação de espionagem
Falando por mais de três horas, no plenário da AL, o governador acusou o
deputado Eudes Xavier de ter praticado crime
O governador Cid Gomes (PSB) disse ontem, no plenário da Assembleia
Legislativa cearense, que o deputado federal Eudes Xavier, filho de uma
Ferreira Gomes, da Região do Acaraú, é "mentiroso, leviano, crápula"
ou "imbecil e idiota" se realmente foi utilizado por uma
"quadrilha" de falsificadores para fazer denúncias, sem provas, sobre
ele governador estar envolvido em espionagem contra adversários políticos
cearenses.
Cid Gomes, no plenário da Assembleia Legislativa, manhã de ontem,
criticando o comportamento do deputado federal Eudes Xavier FOTO: JOSÉ LEOMAR
"Se alguém conseguir provar que eu contratei empresa ou mandei
espionar alguma pessoa, eu renuncio na hora o meu mandato. Não espero o
processo de impeachment", disse. Cid garantiu que vai processar o deputado
do PT, política, civil e criminalmente. Política com uma representação no
Conselho de Ética do PT e da Câmara dos Deputados. Civil, para cobrar perdas e
danos e criminalmente, por ter confessado a prática de um crime, ao se
apresentar com correspondências de terceiros, adquiridas de forma ilícita.
O deputado Eudes Xavier, utilizando o tempo da liderança do PT na Câmara
Federal, quinta-feira, disse ter recebido cópias de e-mails em que confirmariam
a participação do governador Cid Gomes, do ex-ministro Ciro Gomes (PSB) e dos
secretários Arialdo Pinho, da Casa Civil, e Francisco Bezerra, da Segurança
Pública, em crimes de espionagem contra o ex-prefeito de Maracanaú, Roberto
Pessoa, inclusive com a participação de uma empresa americana especializada em
espionagem.
Na mesma quinta-feira, o governador distribuiu uma nota contestando o
deputado. Ontem, logo cedo, ele comunicou ao presidente da Assembleia, deputado
José Albuquerque, que tinha interesse em ir ao Legislativo para dar explicações
aos deputados e ao povo cearense sobre as denúncias do deputado. Ele permaneceu
na tribuna da Assembleia das 11h30 até 15h10.
Cid, após justificar sua presença ali, começou a ler a cópia do
pronunciamento feito por Eudes Xavier, fazendo pequenos comentários sobre
alguns pontos. Leu também a nota que distribuiu, no dia anterior, contestando
as afirmações do petista e disse do seu caráter republicano e de nunca ter
espionado ou mandato espionar a quem quer que fosse. E então afirmou ter tido o
seu sigilo quebrado por uma quadrilha já identificada pela investigação
policial.
Informado
O governador contou que recentemente foi informado pelo empresário Zé
Filho, que o procurou no Castelão, para uma conversa reservada. E, naquele
momento, Zé Filho lhe dissera ter visto o ex-prefeito de Maracanaú, Roberto
Pessoa (PR), ter tirado da carteira a cópia de um e-mail que o secretário
Arialdo Pinho tinha passado para o governador.
Logo depois, foi procurado pela ex-secretária Extraordinária do Centro,
Luiza Perdigão, que lhe comunicou ter chegado às mãos da ex-prefeita Luizianne
Lins a cópia de um e-mail dela (Perdigão) para o governador. Segundo ele,
naquele mesmo dia, ele chamou o chefe da Casa Militar, Cel. Brasil, comunicou o
fato e mandou que ele fosse à Polícia Federal para pedir uma investigação sobre
a violação do seu sigilo.
A Polícia Federal, no Ceará, alegou incompetência e o governador foi ao
ministro da Justiça. Segundo ele, o incômodo com a situação o fez registrar uma
denúncia na Polícia Civil que, com o auxílio de um integrante da Etice,
trabalhou no caso, que chegou ao seu fim no início deste mês. A Polícia Civil
identificou três linhas (IPs) que invadiram o computador do governador e pediu
a quebra do sigilo delas à Justiça, o que foi concedido no último dia 2.
Atípica
O plenário da Assembleia ficou praticamente lotado durante todo o tempo
em que o governador lá estava. Os poucos deputados que estavam ausentes tiveram
a preocupação de mandar seus assessores justificarem as faltas. Foi uma
sexta-feira atípica na Assembleia. Até ex-deputados estavam no plenário do
Legislativo na manhã de ontem.
Alguns secretários estaduais também foram ouvir o governador, dentre
eles o secretário de Turismo, Birmarck Maia; Saúde, Arruda Bastos; Camilo
Santana, Cidades; Gony Arruda, Esportes e Danilo Serpa, Chefe de Gabinete. O
senador Inácio Arruda (PCdoB) e alguns vereadores da Capital também estavam lá,
ouvindo a fala de Cid.
"Eu faço questão de ler o pronunciamento do deputado aqui nesta
Casa e diante mão digo que ao longo dos meus quase 50 anos de vida, deles 20
dedicados à vida pública exercendo mandato, nunca me senti tão indignado e tão
entristecido como o momento em que estou passando hoje", afirmou.
Segundo Cid, o sentimento de indignação se deu porque Eudes Xavier disse
que ele e seu irmão estavam arquitetando "um complô contra a democracia e
contra os políticos do Estado e podem atingir outras lideranças políticas e
econômicas".
Ao ler esta parte do pronunciamento do parlamentar, Cid afirmou que
existe uma quadrilha que está procurando difamá-lo por conta de um ódio pós
eleitoral, segundo disse, em razão de ter sido forçado a se apartar da aliança
com o PT em Fortaleza.
Na denúncia feita pelo petista, o governador, juntamente com seu irmão,
trocava e-mails, inclusive com a participação do chefe da Casa Civil, Arialdo
Pinho, e também do secretário de Segurança, Francisco Bezerra, afirmando que
contrataram a empresa de espionagem Kroll para investigar desafetos do
governador, com a possibilidade de estar sendo gasto, inclusive, dinheiro
público com as ações denunciadas.
"Eu não sei nem o que diabo é isso", disse o governador. Em um
dos trechos do pronunciamento de Eudes Xavier, ele chega a dizer que o alvo
principal da suposta espionagem era o ex-prefeito de Maracanaú, Roberto Pessoa,
desafeto histórico de Cid Gomes. O petista afirma também que Cid pede para o
secretário Francisco Bezerra tentar convencer Ciro a recuar de uma ação, o que
o governador nega veementemente. "Isso são modos de um governador tratar
com secretário sobre o meu irmão? Se tivesse um mínimo de pensamento contrário
a ele eu chegaria para ele e não falaria com um secretário", disparou.
Contrato
O governador fez também a leitura de nota encaminhada à imprensa,
explicando todos os pontos que espera que sejam esclarecidos. De acordo com a
nota, nunca o Governo do Estado teve contrato com a empresa Kroll ou qualquer
instituição de investigação; todos os e-mails citados por Xavier são falsos; o
deputado confessou um crime e terá que se explicar como conseguiu os referidos
e-mails, afirmando que irá entrar com processos contra o petista nas instâncias
política, civil e penal.
"Eu não sei de onde partiu esse ódio que tem demonstrado o Eudes.
Eu tenho dúvida se ele entrou nisso de imbecil, de idiota, ou se é um crápula e
está vinculado a essa quadrilha perigosíssima que tem que ser identificada e
tem que ser punida. O futuro por onde atuo sempre que me sinto ferido é que vai
decidir e eu quero continuar acreditando na Justiça", completou Cid Gomes.
O governador relatou um episódio ocorrido em Redenção, na presença do
ex-presidente Lula, em que um grupo levado pelo deputado Eudes Xavier o vaiou
na hora do discurso. Cid disse ter chamado o deputado de ridículo pelo ato
praticado.
Informação
Sobre a quebra do seu sigilo, o governador disse que o
"disparate" teve início quando recebeu a informação de que o então
prefeito de Maracanaú, Roberto Pessoa, estava de posse da cópia de um e-mail
enviado por Arialdo Pinho a ele. Em seguida, a ex-secretária do Centro, Luiza
Perdigão, procurou o governador para dizer que um e-mail que ela passou para
ele estava de posse da ex-prefeita Luizianne Lins.
Depois do ocorrido, o chefe da Casa Militar, Coronel Joel Brasil, foi
chamado para institucionalmente resguardar a pessoa do governador. Logo após
uma varredura, nada foi constatado, e, em seguida, foi pedido o apoio da
Polícia Federal, junto ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.
Insatisfeito com a situação, ele pediu a abertura de inquérito pela Polícia
Civil, nesta semana, concluído, onde três identificação de dispositivos (IPs)
foram identificados.
Foi decretada a queda de sigilo dos IPs envolvidos e Cid garantiu que as
pessoas que estavam acessando os seus e-mails serão identificadas.
"Inventaram toda essa história e passaram cópias ao deputado Eudes Xavier.
Mas eu desejo acreditar na Justiça do meu País e espero que absurdos como esse
não possam tirar o estimulo e a motivação, de quem quer servir ao País sem se
sentir vítima de gente que é capaz de qualquer coisa para atingir seus
objetivos", disparou.
O que eles pensam
Qual sua opinião sobre o episódio?
A líder do PT na Assembleia Legislativa, Rachel Marques, defendeu o que
foi repetido por outros parlamentares petistas, de que as acusações levantadas
pelo deputado federal Eudes Xavier contra o governador Cid Gomes não
representam a postura do partido em relação ao tema. A parlamentar também fez
questão de ressaltar, ontem, que Xavier não consultou a bancada do PT antes de
apresentar os supostos e-mails trocados entre o governador e alguns de seus
aliados. "Eu posso, e cabe a mim fazer isso, como líder do PT na
Assembleia, dizer que essa posição, esse posicionamento, ele o fez por uma
decisão isolada e não manifesta nem reproduz o que nós defendemos. Até porque,
para o deputado fazer a denúncia que ele fez, não consultou ninguém do
PT".
Rachel Marques
Líder do PT na Assembleia Legislativa
Patrícia Saboya (PDT), ex-mulher de Ciro Gomes, irmão de Cid, afirmou
que estava desmotivada com a política e pensando, inclusive, em parar de
disputar eleições, mas disse que mudou de opinião com a atitude do governador.
Ela lembrou que ficou distante do pessebista nas eleições de 2008, quando ele
apoiou Luizianne Lins e ficou contra ela, que também era candidata a prefeita.
Para ela, o posicionamento do deputado Eudes Xavier ainda diz respeito à
derrota do PT na última eleição em Fortaleza. "Isso faz parte de um ódio
porque perdeu a Prefeitura e tirou de meia dúzia as benesses que tinham. Eu, se
fosse o senhor, pediria para que a ex-prefeita Luizianne seja investigada. Ela
participa claramente desse conluio, e esse Eudes Xavier não é sério, é um menino
de recado dela".
Patrícia Saboya
Deputada estadual pelo PDT
Emocionado com a dimensão que a situação tomou e seguindo o
direcionamento da maior parte dos parlamentares cearenses que acompanharam a
defesa do governador Cid Gomes, o deputado Lula Morais (PCdoB) também prestou
solidariedade ao chefe do Executivo estadual, pelas denúncias direcionadas a
ele e alguns de seus aliados. O comunista Lula Morais chegou a chorar na
tribuna da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará e pediu desculpas ao governador
Cid Gomes, afirmando que o seu sobrinho, o empresário Raimundo Moraes Filho,
conhecido como Moraizinho, esteve envolvido em esquema que queria vincular a
imagem do governador do Ceará a um esquema fraudulento, ainda durante as
eleições de 2010, decepcionou a sua família.
Lula Morais
Deputado estadual pelo PCdoB
Eudes diz não ter feito juízo de valor
O deputado Eudes Xavier nega qualquer participação dele ou do PT em um
possível esquema de espionagem dos e-mails do chefe do Executivo Estadual. O
petista também alegou que apenas apresentou, no plenário da Câmara Federal, na
última quinta-feira, denúncia que teria recebido contra Cid e seu irmão, o
ex-ministro Ciro Gomes, e que pediu, por meio de requerimento, que o Ministério
Público Federal investigasse o caso, "sem fazer qualquer juízo de
valor".
"Apresentei a denúncia, porque acho ela gravíssima, pois envolve o
aparelho estatal e uma empresa de espionagem internacional. Estou apenas
querendo que ela seja apurada", justificou, deixando claro que, em nenhum
momento, disse que os fatos citados eram verdadeiros ou não.
Ele disse ter recebido as cópias dos e-mails que estariam sendo trocados
por Cid em um envelope deixado em seu gabinete por alguém que ele não sabe quem
é, na noite da quarta-feira, um dia antes de ele apresentar a denúncia na
tribuna.
Eudes justificou que, por ter recebido a denúncia na véspera, não teria
tido tempo de conversar com nenhum outro parlamentar da bancada petista antes
de apresentá-la na Câmara. "Além disso, a dinâmica do PT diz que qualquer
deputado pode se pronunciar sobre o que quiser", acrescentou. Na avaliação
dele, não há motivo para tanta "perturbação" por parte do governador
em relação ao caso. "Não sei por que ele está tão incomodado, pois, se
eles forem inocentes, com certeza serão absolvidos", declarou.
Liderança
O deputado José Guimarães, líder da bancada do PT na Câmara Federal,
mandou nota para as redações dizendo que a manifestação do seu colega Eudes
Xavier foi isolada, portanto não conta com o apoio nem da liderança e nem do
diretório estadual da agremiação. Eudes, ao pedir o tempo da liderança, não
disse o que falaria. Guimarães destacou a importância da aliança com Cid, para
o Ceará e o Brasil.
Fonte: Diário do Nordeste
0 Comentários:
Postar um comentário
Deixe seu comentário!
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial